quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Versus


Além de nos implantar neuroses hereditárias e adquiridas, Freud já explicou isso em algum lugar, pais servem para nos mostrar como somos coitadinhos por não termos nascido antes, no passado, de forma que dependendo da vertente paternal ou perdemos por não subirmos naquele pé de goiaba para colher fruta madura no pé sem agrotóxicos, que hoje provavelmente cedeu lugar a algum estabelecimento comercial, ou por não termos oportunidade de assistir um show dos Stones sem toda a traição do movimento e a luta contra o sistema.
Calculando superficialmente e me inserindo na zona das estatísticas, pais foram jovens numa época em que as “ameaças” de hoje eram apenas meios de ter grandes sacadas. Drogas serviam para embalar o clima do rock progressivo, eram pontes para ideologias. Idealiza-se que os nossos atuais indies e emos são estruturas flácidas perto do que foram os yuppies e nem wave, porque somos “moderninhos” e com aspas bem maiores para tornar o desprezo mais significante, ou melhor, para nos tornar mais insignificantes perto do que eles eram, lê-se doidões ou babacas.
Observando os momentos de catarse dos mais velhos quase caio no dilema de que não vale a pena estar nesse mundo por já ter perdido tudo que existiu de bom nele. Só que enquanto eles se preocupavam com a veracidade da pisada do homem na lua, nós já queremos saber, foi ou não foi de All Star? Explicando a metáfora, não foram os tempos que mudaram, mas sim as perspectivas do entendimento.
Constatei de forma imatura que o “existirá” sempre vai ser algo incompreensível e consequentemente pior para gerações passadas. Será ruim pela sempre suposta decadência da variedade humana ou pelo supérfluo fato de não nos agradar a falta de certeza da vivencia ativa no possível futuro. Sem mais crises de preconceito e julgamento, no fundo com tudo isso só queria ter a certeza de que chegaria aos 30 sem adorar cinicamente as músicas da Legião Urbana.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Euforia mode on.


De todas as sensações já experimentadas, acredito que a que mais me eletriza é quando escuto palavras simples, porém de efeito, que me tiram de um estado amortecido.
Eu tenho muito disso, de ficar amortecida, com airbags acoplados. Não que eu me torne uma pessoa indiferente ou insensível, apenas a forma como recebo qualquer tipo de notícia torna-se amena nessas situações. O meu cantor preferido, aquele que só é conhecido no ”mundinho alternativo”, que eu sei todas as músicas e tenho todos os cds, vem fazer um show na minha pequenina e anônima cidade; no meu estágio amortecido minha reação para essa informação seria “humm, é acho que vou, o show deve ser bacana.”
Ontem o telefone tocou e era Londres. Atendi feliz, mas meu “oi” foi amortecido calmo. Bom tempo de conversa e veio o choque que me eletrizou. “Já pensou que teu atual espaço não te cabe?”. E essas foram as palavras mágicas para minha excitação chegar ao ápice. Escutar aquilo foi melhor do que qualquer música nova daquele cantor preferido que só é conhecido no “mundinho alternativo”. Poderia me sentir feliz por Londres me querer tanto ao seu lado ou triste por estar onde não me cabe e onde me cabe ser tão distante em aspectos concretos e abstratos, mas estou excitada, animada com as palavras e com as várias possibilidades, que com uma simples frase de efeito eu consegui enxergar.
Então vou de nota metal. O efeito anestésico passa quando um toque fácil proporciona a exata excitação.

sábado, 18 de outubro de 2008

Cadê a intensidade?



"Eu quis te conhecer, mas tenho que aceitar
Caberá ao nosso amor o eterno ou o não dá
Pode ser cruel a eternidade
Eu ando em frente por sentir vontade”

(Marcelo Camelo)


Esse anda longe de ser um blog de crítica musical, mas não posso deixar de comentar sobre algo que ouvi e que muito me incomodou. Foi lançado o primeiro trabalho da carreira solo do Marcelo Camelo, o cd “Sou”.
Como fã do Los Hermanos minha primeira atitude foi escutar cada faixa com expectativa. Em um primeiro momento bateu a vibe ”los hermanos” e não consegui ter um julgamento não tendencioso do projeto, mas depois de me familiarizar com as músicas e de deixar de lado alguns conceitos anteriores, a decepção foi nítida. Lembro-me de me perguntar ao escutar o cd o motivo de o nível das composições ter caído de forma considerável, se nota-se que a essência da banda ainda está nesse “novo começo”. Porque se o Camelo tentasse novas propostas até julgaria como erro típico de quem começa novos trabalhos, ainda mais depois de tantos anos em um projeto com fãs dedicados e que tinham a expectativa alcançada a cada novo cd, em cada nova música.
Não queria fazer comparações, porém é inegável o fato do Amarante ter conseguido realmente uma carreira própria, carreira essa que já existia mesmo estando com os hermanos. A Orquestra Imperial faz um som de qualidade e que em nada lembra o que é feito pelo Los Hermanos e ainda surgiu a Little Joy que é a banda do Rodrigo com o baterista do The Strokes. Ela tem movimento, não diria que a batida é totalmente original, porém é de peso.
Não falo que não gosto de nada que escutei do “Sou”, algumas melodias têm uma boa sonoridade, o que intriga são as letras que não possuem a mesma intensidade. Admiro muito o compositor que ele é e ainda existe fascinação, até porque a forma continua a mesma, porém o conteúdo, nesse caso, não transmite a mesma verdade. Ainda dou os meus aplausos, mas sem tanta intensidade.